Fazenda Experimental da Funed é responsável pela produção do plasma

Quando se pensa na produção de soros antipeçonhentos, poucas pessoas imaginam que o processo envolve não apenas a unidade fabril, mas uma série de etapas executadas, inclusive, fora da sede da Fundação Ezequiel Dias (Funed). Na Fazenda Experimental São Judas Tadeu, localizada em Betim, a 35 km da sede da Fundação, a produção do plasma já se encontra em ritmo acelerado.

O responsável pela produção de plasma do Serviço de Fazenda Experimental (SFE), Marcos Vinícius Serafim, conta como cada etapa realizada no local é essencial para a obtenção do produto final, que é o soro hiperimune. “Na Fazenda, tudo começa com a imunização dos cavalos. Nós recebemos veneno de serpentes e escorpiões, liofilizado, que vem do Serviço de Animais Peçonhentos. A partir desse veneno, é feito o preparo dos inócuos, que são utilizados para imunizar os equinos soroprodutores”, detalha.

Passo a passo:

– Os cavalos são imunizados em etapas, divididas em quatro dias diferentes: 1º dia (aplicação feita com adjuvante, um óleo mineral utilizado no preparo do inóculo, que potencializa a resposta imunológica), 10º, 13º e 16º (somente com o antígeno diluído em solução salina).

  • Uma curiosidade é que o soro produzido pela Funed é chamado de hiperimune pelo fato de ser obtido a partir do processo de imunização dos equinos citado acima, ao longo de 16 dias, com quatro aplicações. Os intervalos e a utilização do adjuvante no primeiro dia de imunização potencializam a resposta imunológica, fazendo com que haja uma elevada produção de anticorpos, sendo esse o processo de hiperimunização.

– Após os 16 dias de imunização, é realizado um novo intervalo, agora de sete dias. Esse período adicional permite que os equinos continuem a produzir anticorpos, alcançando um pico de produtividade.

– No 23º dia, é feita a extração do sangue. Etapa essa que é feita durante quatro dias.

– No primeiro dia da etapa da sangria, é feita apenas a retirada do sangue do animal. Logo após, a bolsa de sangue fica em uma prateleira, para que ocorra a sedimentação das células. Nesse processo, chamado hemossedimentação, o plasma, que contém os anticorpos produzidos pelos equinos, fica separado dos outros elementos do sangue, como hemácias e leucócitos.

– A partir do segundo dia, dois processos acontecem simultaneamente: o segundo dia de extração do sangue e, posteriormente, a plasmaferese, que é devolução das células (hemácias e leucócitos) para os cavalos. Para isso, todas as bolsas de sangue são devidamente identificadas, de forma que os animais recebam as células da mesma bolsa de sangue que foi separada no dia anterior.

  • Para que haja fluidez e o cavalo possa receber o sangue de volta, é feito um preparo que consiste em adicionar à “papa de hemácias” dois litros de solução fisiológica estéril em cada bolsa.

– No quinto e último dia do processo, é feita apenas a devolução do sangue para o animal.

Marcos explica ainda que, após a separação do plasma, etapa essa que é feita no laboratório recém-reformado do Serviço de Fazenda Experimental, ele é armazenado em câmara fria, entre 2ºC e 8ºC. “Os lotes de plasma são enviados para a sede da Funed, de acordo com a demanda da produção de soros, para que sejam processados e transformados em ampolas. Essas ampolas com o soro final são, posteriormente, utilizadas no tratamento para a picada de animais peçonhentos, como serpentes e escorpião”, explica.

Os equinos

O SFE conta hoje com 126 cavalos, no total. Para a produção do plasma brotópico (jararaca) há duas tropas, uma com 20 equinos e outra com 18; para o crotálico (cascavel), uma tropa com 18 cavalos e, para o escorpiônico, 14 animais. “A Fazenda conta com 70 animais em produção hoje. Para isso, os anticorpos são específicos. Assim, precisamos que os animais sejam também específicos. Ou seja, o animal imunizado com o veneno brotópico só pode receber esse veneno para produzir o anticorpo específico”, ressalta o responsável pela produção de plasma.

Os animais que passam pelo processo de produção de plasma têm um período de descanso de um mês, para então retornar para um novo ciclo. Sendo assim, em um ano, os equinos podem passar por até seis ciclos do processo produtivo e têm um cuidado diferenciado. Cada cavalo recebe, por dia, em média, sete quilos de feno e quatro quilos de uma ração especial, que tem um teor de proteína mais alto. “São realizados ainda exames de controle sanitário e, periodicamente, a vacinação e o controle de parasitas, com a vermifugação, que seguem um cronograma anual. O veterinário da Funed dedicado à Fazenda é também responsável pela análise clínica dos equinos”, conclui Marcos.

O servidor conta ainda que a Fazenda recebeu, recentemente 23 cavalos da Polícia Militar, que vão ser integrados ao plantel. “Atualmente, eles estão em quarentena e serão integrados depois de 60 dias da chegada. Nesse período, são feitos exames para negativação de anemia infecciosa equina, que é uma doença controlada em Minas Gerais”, frisa.

Melhorias na Fazenda

O chefe do SFE, Fábio de Souza Luiz, ressalta a importância da Fazenda na cadeia produtiva dos soros. “Não há condições, hoje, de se pensar a produção com animais do porte dos cavalos que temos dentro da cidade grande. Desde a década de 80, nós estamos localizados na zona rural de Betim, com mais de 100 cavalos soroprodutores. Além dos equinos, a Fazenda conta também com ovinos doadores de sangue para diagnóstico de doenças, como a peste, e para a produção de meios de cultura. Sendo assim, manter essa infraestrutura exige todo um cuidado, um zelo e o cumprimento de normas de Boas Práticas de Fabricação, além de seguir as definições do Sistema de Gestão da Qualidade. Exige ainda manter os animais aptos e saudáveis para o processo produtivo e toda uma equipe qualificada para esse trabalho”, diz.

Entre os grandes avanços obtidos na Fazenda Experimental nos últimos anos, Fábio destaca a reforma estrutural do laboratório de produção, com as adequações necessárias às Boas Práticas de Fabricação e posterior cadastro da planta produtiva junto à Vigilância Sanitária. Houve também a reestruturação do parque agrícola, com a aquisição de equipamentos auxiliares ao processo de bem-estar animal, como tratores e implementos novos para trabalhar na nutrição animal e no plantio de capineiras. Além disso, as melhorias na segurança, com a instalação do sistema do Circuito Fechado de Televisão (CFTV), e a reforma do alojamento dos trabalhadores também são pontos de melhorias ressaltados pelo chefe do Serviço.

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