Regional de Saúde de Ponte Nova avalia cenário da hanseníase no território

A hanseníase – considerada uma das enfermidades mais antigas do mundo –  ainda é um problema de saúde pública na atualidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021), o Brasil ocupa o segundo lugar entre os países com maior número de casos, abaixo apenas da Índia e seguido da Indonésia. Dados do Ministério da Saúde (MS) de 2023 também apontam um cenário alarmante: 22.773 novos casos notificados no país e a detecção de 958 casos em menores de 15 anos, o que indica alta endemicidade. 

Segundo a referência técnica do Núcleo de Vigilância Epidemiológica (Nuvepi) da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Ponte Nova, Mônica Maria de Sena Fernandes Cunha, a detecção de hanseníase em menores de 15 anos é um dos mais importantes indicadores de monitoramento da doença, e permite inferir sobre sua circulação recente e sua transmissão ativa. “Tais registros são tidos como eventos sentinela, sinalizando para a transmissão recente na comunidade e as dificuldades dos programas de saúde no controle da doença”, apontou. 

A hanseníase é uma doença crônica, cuja transmissão se dá por meio de gotículas de saliva ou secreção nasal, em contato íntimo e prolongado com indivíduos doentes que ainda não iniciaram o tratamento e estão em fases adiantadas da doença. Dentre seus principais sinais e sintomas, estão: dormência em alguma área do corpo; sensação de secura nos olhos e no nariz; parestesia na face; dor e sensação de choque, fisgadas e agulhadas ao longo de nervos dos braços, pernas e faces; diminuição da força muscular das mãos, face e pés; e manchas na pele claras ou vermelhas, com perda de sensibilidade.

“A descoberta precoce é o principal caminho para a cura, além de evitar a possibilidade de transmissão, complicações e incapacidades físicas permanentes. No entanto, observamos que ainda há alguns municípios da nossa região que estão silenciosos”, alertou Mônica.

Dados regionais

Na área de abrangência da SRS Ponte Nova, composta pelas microrregiões de saúde de Ponte Nova e Viçosa, houve registros de casos de hanseníase em menores de 15 anos no ano de 2018 (taxa de detecção de 5,24 por 100 mil habitantes na microrregião de Ponte Nova) e no ano de 2023 (taxa de detecção de 4,29 por 100 mil habitantes na microrregião de Viçosa). 

Entre julho de 2023 e julho de 2025, foram distribuídos pela SRS Ponte Nova 48 kits de testes rápidos para avaliação de contatos de hanseníase na Atenção Primária à Saúde (APS). Segundo Mônica Cunha, os kits (compostos por cinco testes cada) foram direcionados a 20 municípios solicitantes e com registro de casos, totalizando 240 testes rápidos aplicados no território. 

Atenção Primária à Saúde 

Conforme o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Hanseníase (PCDT), do Ministério da Saúde (MS), deve haver a descentralização do cuidado dos pacientes com hanseníase para a Atenção Primária à Saúde (APS). A enfermeira Daniela Roque Mendes, que atua no município de Raul Soares, destacou que a falta de conhecimento dos profissionais desse nível de atenção é, ainda, uma realidade preocupante, que compromete o diagnóstico precoce, o tratamento adequado e o controle da cadeia de transmissão da doença.

“Isso impacta no aumento dos custos com tratamento de complicações e reabilitação, na manutenção da cadeia de transmissão, o que dificulta a meta de eliminação da doença como problema de saúde pública e, principalmente, o impacto na qualidade de vida do paciente e de sua família, com sequelas físicas, sociais e psicológicas evitáveis”, alertou.

A médica Luciana Martins da Costa, do município de Santo Antônio do Grama, membro da Sociedade Brasileira de Hansenologia, testemunhou sobre sua experiência no atendimento às pessoas com hanseníase. “No contexto da APS, é importante fazer a busca ativa dos casos para favorecer o diagnóstico precoce e prevenir incapacidades. Mas, por diversas razões, a hanseníase se enquadra dentre as doenças negligenciadas, sendo também responsável por causar grande impacto na qualidade de vida das pessoas por ela acometidas”, destacou.

Por Tarsis Murad 

Foto: Mônica Cunha –  Evento sobre Hanseníase ocorrido no SRS Ponte Nova em 30/04/2025.

Rolar para cima